Campo Grande (MS) – Em esforço conjunto, o Governo de Mato Grosso do Sul, a União e o Governo de Mato Grosso concluem até março de 2016 um estudo preliminar que irá subsidiar o estabelecimento de ações estaduais e federais a curto, médio e longo prazo para a conservação da Bacia do Paraguai no âmbito de toda a sua extensão em território brasileiro e medidas específicas para dar solução ao assoreamento e recuperar o Rio Taquari.
Na semana passada, de 14 a 18 de dezembro, técnicos da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) sobrevoaram a região pantaneira no Estado, levantaram dados e fizeram registro fotográfico dos rios da Bacia do Pantanal e principalmente do assoreamento do Rio Taquari. Poucos dias antes, esse mesmo trabalho foi realizado no Mato Grosso, pela ANA e o órgão ambiental daquele estado.
No sábado (19), foi realizado o último sobrevoo, desta vez com a presença do secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico, Jaime Elias Verruck, da diretora da ANA, Gisela Forattini, da Secretária de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Ana Cristina Barros e de Daniele Coelho Marques, técnica da Famasul, membro do Grupo de Acompanhamento do Plano de Recursos Hídricos da Região Hidrográfica do Paraguai (GAP) e integrante do Conselho Estadual de Controle Ambiental (CECA). Acompanharam ainda, Sérgio Rodrigues Ayrimoraes, Superintendente de Planejamento de Recursos Hídricos da ANA e Thiago Henriques Fontenelle, especialista em Recursos Hídricos e navegador.
Técnicos avaliaram os pontos críticos do Taquari
No sobrevoo de sábado foram percorridos cerca de 1.200 quilômetros pela Bacia do Rio Paraguai, passando pelos rios Aquidauana, Miranda, Negro, Paraguai e chegando aos rios Taquari e Coxim, avaliando os estragos causados por décadas de má utilização dos recursos naturais e dando inicio ao um banco de dados compartilhado, que irá gerar uma estratégia conjunta de recuperação dos cursos d’água que fazem parte do Pantanal.
De acordo com o secretário Jaime Verruck o sobrevoo foi um processo fundamental realizado entre as esferas de governo. “Mostrou uma integração muito forte para realmente recuperarmos o rio. É a finalização de um diagnóstico preliminar, e esse é o grande ponto. Conseguimos mostrar a integração entre essas entidades e que o propósito é um só: a sustentabilidade, baseada no elevado nível técnico”, avaliou o titular da Semade.
Durante o sobrevoo os técnicos puderam mensurar os desafios e avaliar o tamanho do processo erosivo que inviabilizou o desenvolvimento sustentável do rio. “Quanto ao Taquari (os técnicos) realmente ficaram impressionados com a questão dos arrombados (ilhas de assoreamento) e o impacto ambiental e socioeconômico. A Semade terá de fazer um trabalho muito forte na cabeceira do rio Coxim, onde nós já temos uma série de projetos de Habitação de Interesse Social. Ficou muito evidente a necessidade de recuperar o rio em toda a sua extensão. Vamos levar ao governador e a União o foco na recuperação de áreas degradadas, do leito natural e dos recursos hídricos. Em uma segunda etapa discutiremos a que se propicia o rio: habitação sustentável, geração de energia ou irrigação”, explicou Verruck.
Trechos de assoreamento no Rio Taquari
De acordo com Gisela Forattini, diretora da Agência Nacional de Águas, os sobrevoos foram úteis para se refinar o diagnóstico sobre a Bacia do Taquari. E servirão para a formulação de uma proposta que poderá garantir, inclusive, o aporte de recursos internacionais para aplicação em medidas de recuperação ambiental.
“Precisávamos validar os nossos mapas. Vamos trabalhar estes dados, disponibilizar as análises na página do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos e continuar os diagnósticos no âmbito do grupo de acompanhamento. Em paralelo estamos contratando um trabalho com a Fundação Eliseu Alves, da Embrapa, que analisa a questão das Pequenas Centrais Hidrelétricas, a questão economia da bacia, de pesca, de turismo. Com estes dois projetos nós teremos uma base de informação muito importante para tomada de decisão nesta bacia. Pretendemos até março ter todos os dados consolidados e entregar uma proposta para angariar recursos internacionais, que será quantificado financeiramente após a compilação dos dados obtidos pela pesquisa”.
A secretária de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Ana Cristina Barros avaliou o sobrevoo em dois lados: “O de fora do avião mostra que é sempre bom conhecer os problemas descritos em relatos, em autos de infração, em avaliações de desafios ambientais como os do Alto Taquari. Tudo isto, visto na prática, é sempre muito bom. A gente ganha outra dimensão. Por outro lado, no lado de dentro foi bom ter conhecido a visão de uma agenda de desenvolvimento sustentável do governo do Estado, baseada no uso da terra e que percebe a reserva legal como um ativo de desenvolvimento, climático, baseado na indústria florestal, de agregação de valor e de geração de energia. Foi muito gratificante”.
Apesar da visível degradação do Rio Taquari, a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico (Semade) avaliou a conservação de enormes áreas na região do Alto Paraguai. “Efetivamente o Pantanal tem grande numero de áreas preservadas. Principalmente na Bacia do Aquidauana, no Rio Negro e Miranda, mostrando que é possível ter uma gestão adequada e sustentável em relação aos nossos rios”, garante o secretário Jaime Verruck.
O Taquari – A nascente do rio localiza-se em uma das vertentes da Serra do Caiapó, nas proximidades da cidade de Alto Taquari, em Mato Grosso. O curso segue Mato Grosso do Sul adentro até a confluência com o Rio Coxim. Nesta etapa é denominado Alto Taquari. Ao longo de 335 quilômetros, de Coxim até Porto Rolon, já dentro do Pantanal, é conhecido por Médio Taquari. Nos 100 quilômetros seguintes, até a foz do Rio Paraguai, próximo ao Porto da Manga, denomina-se Baixo Taquari.
Desde a década de 1970 a expansão da pecuária e da soja em áreas do Planalto tem aumentado o desmatamento e a erosão da região de transição entre o Planalto e o Pantanal. Reconhecido pela elevada capacidade de transporte de sedimentos, o rio Taquari (e em menor escala o São Lourenço) apresentou acelerados índices de deposição de sedimentos no Pantanal e o consequente assoreamento, ocasionando impactos socioeconômicos e ambientais graves.
Segundo o gerente de Recursos Hídricos do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul, Leonardo Sampaio, o Taquari é um organismo vivo, que altera seu curso e busca se adaptar ao meio. “A grande capacidade de alteração de curso e de transporte de sedimentos já era conhecida dos Bandeirantes, que relataram essa característica na época (século XVII). As erosões causadas pela derrubada das matas ciliares e da falta de planejamento produtivo aceleraram um processo que era natural e muito mais lento. O primeiro passo para desacelerar este processo é a instalação de Áreas de Preservação Permanente. Em seguida serão avaliadas questões mais técnicas, como dragagem”.
Com Marcio Breda e fotos de Marcelo Armôa