Quase quatro décadas de dedicação à reabilitação, conservação e esperança
Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, o Mato Grosso do Sul tem motivos de sobra para celebrar e refletir. Diante de uma das mais importantes estruturas de proteção à vida silvestre do país, o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) reafirma seu compromisso com a conservação da biodiversidade por meio do trabalho contínuo e dedicado do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS).
Criado em julho de 1987, o CRAS consolidou-se como uma das principais referências nacionais no cuidado com a fauna silvestre brasileira. Sob a gestão do Imasul, o centro foi um dos primeiros do Brasil com essa missão específica e, desde então, vem cumprindo papel fundamental no resgate, tratamento e reintegração de animais vítimas de tráfico, queimadas, atropelamentos, desmatamento e outras ameaças provocadas pela ação humana.
Compromisso com a vida e o equilíbrio ecológico
O CRAS representa um compromisso vivo com a vida silvestre e o equilíbrio ecológico. Em quase quatro décadas de atuação, milhares de animais já passaram pelas mãos da equipe técnica, que realiza triagens criteriosas, atendimento clínico, acompanhamento nutricional e comportamental. O objetivo principal é sempre a reabilitação e, quando possível, a devolução à natureza. Para aqueles que não possam mais retornar ao habitat natural, são buscadas alternativas em instituições científicas, zoológicos e projetos de conservação licenciados.
Hospital Ayty: tecnologia e acolhimento a serviço da fauna
O trabalho do CRAS foi significativamente fortalecido com a criação do Hospital Veterinário de Animais Silvestres Ayty, anexo à estrutura original. Seu nome em Tupi-Guarani, “Ayty”, significa cuidado e acolhimento — e traduz com resultado a proposta do espaço. Inaugurado pelo Imasul com mais de R$ 5 milhões investidos em obras e mais de R$ 1 milhão em equipamentos de ponta, o hospital possui 1.153 m² de área construída, oferecendo desde os primeiros socorros até cirurgias especializadas e reabilitação intensiva de longo prazo.
Balanço do primeiro semestre de 2025
De janeiro a junho deste ano, o CRAS realizou 808 atendimentos de animais silvestres, contemplando uma diversidade impressionante de espécies: aves, mamíferos, répteis, anfíbios e até invertebrados. Atualmente, cerca de 320 animais estão sob cuidado no centro, em diferentes estágios de recuperação.
As aves seguem como o grupo mais numeroso, com destaque para os psitacídeos, como papagaios, araras, periquitos e maritacas. Entre os mamíferos, que representam 14,48% dos atendimentos (415 registros), estão espécies emblemáticas como tamanduás, onças-pintadas, lobinhos e macacos. Já os répteis, como cobras, jabutis e jacarés, correspondem a 7,15% (205 animais). Até mesmo pequenos anfíbios e invertebrados — 0,52% do total — recebem acolhimento, demonstrando o compromisso com todas as formas de vida.
“O CRAS representa uma estrutura estratégica dentro da política ambiental de Mato Grosso do Sul, atuando na interface entre conservação da biodiversidade, saúde única e responsabilidade socioambiental. Cada animal resgatado e reabilitado reflete a eficácia de ações integradas de fiscalização, manejo e reintrodução, que visam à manutenção dos ecossistemas e ao cumprimento dos compromissos ambientais do Estado”, destacou o diretor-presidente do Imasul, André Borges.
As principais causas de entrada continuam sendo resgates realizados pela Polícia Militar Ambiental (PMA), além de atropelamentos, incêndios florestais, desmatamento, avanço urbano e tráfico de fauna. Um dado preocupante é o aumento no número de filhotes órfãos, cujas famílias foram desestruturadas pela destruição do habitat. Esses animais necessitam de cuidados especializados e longos períodos de readaptação para garantir a sobrevivência futura.
“A diversidade de espécies atendidas revela a complexidade do nosso trabalho. Cada animal representa uma história de sobrevivência e exige cuidados específicos para que possa se recuperar plenamente”, explica Aline Duarte, gestora do CRAS.
Operação Pantanal
Com a intensificação da estimativa e o avanço das queimadas no Pantanal, o CRAS e o Hospital Ayty integram a Operação Pantanal, ação coordenada por diversas instituições — como a PMA, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Gretap, Ibama, entre outras.
Um protocolo emergencial já está em funcionamento, com ações coordenadas de resgate, triagem e atendimento especializado. Toda a estrutura foi preparada para responder com agilidade às ocorrências, garantindo aos animais uma nova chance de vida.
Ciência, educação e empatia como pilares
Além de salvar vidas, o CRAS tem forte atuação na produção de conhecimento científico. Parcerias com universidades, centros de pesquisa e projetos de conservação permitem a realização de estudos sobre nutrição, comportamento, saúde e bem-estar animal.
Embora não receba visitação pública, devido ao foco exclusivo na reabilitação, o CRAS desenvolve campanhas de conscientização e educação ambiental, ajudando a formar uma cultura de respeito e empatia pela fauna silvestre.
Guardião do presente, esperança do futuro
Mais do que um centro de triagem, o CRAS é símbolo de resistência, ciência e compromisso com a vida. Transformando dor em cura, e ameaças em conservação, a instituição segue como referência nacional no cuidado à fauna.
No coração do Brasil, pulsa a missão de preservar a biodiversidade — uma missão que inspira e transforma, todos os dias.
Texto: Gustavo Escobar
Fotos: Arquivos, Saul Schramm e Gustavo Escobar