Campo Grande (MS) – Técnicos do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) estão investigando a origem do material orgânico vegetal que obstruiu trechos do rio Miranda no último fim de semana. “O fenômeno é conhecido da população local, ocorre todos os anos nessa época de chuvas mais intensas”, explica o comandante da Polícia Militar Ambiental (PMA) em Miranda, tenente Antônio Rondon da Silva. Nesse ano, entretanto, o volume de sedimentos carreado pelas águas foi maior e acabou criando uma barreira para navegação na altura da Ponte do Calcário, área urbana da cidade de Miranda.
O tenente conta que trabalha há 30 anos na região e isso ocorre com frequência. O material orgânico desce até parar em alguma curva do rio ou, no caso desse ano, na ponte, de onde está sendo retirado com auxílio de máquinas da Prefeitura de Miranda. “Esse tipo de vegetação é característica do rio Miranda. No rio Paraguai acontece algo parecido, mas com plantas aquáticas. Formam blocos tão maciços que é possível caminhar por cima. Lá, o material é retirado por navios”, explica.
Recorte de uma reportagem publicada em fevereiro de 2007 pelo Jornal Guaicuru mostra que a situação se repete no Miranda, sempre nessa época do ano. Na ocasião, a imagem mostra o leito do rio tomado por material orgânico muito semelhante ao verificado atualmente.
O secretário adjunto da Semagro (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico e Agricultura Familiar), Ricardo Senna, salienta que o material é composto basicamente por vegetação nativa das margens do rio, como taquaras e bambus. O que pode ter acontecido é que, com a intensidade das chuvas ocorridas nos últimos dias na região, a força das águas tenha arrancado essa vegetação. Outra explicação pode estar nas queimadas ocorridas no fim da Primavera e que atingiram sobremaneira o Pantanal. O material lenhoso que resistiu ao fogo pode ter sido arrastado para o rio pela enxurrada.
De qualquer forma, o secretário determinou ao Imasul que faça um estudo para tentar identificar a provável origem do fenômeno. O diretor presidente do Imasul, André Borges, e fiscais do órgão se deslocaram a Miranda para verificar ‘in loco’ o ocorrido. “Delimitamos uma área e vamos fazer sobrevoo com drones para investigar se houve algum desmatamento irregular, mas de antemão nosso entendimento é que esse material tenha sido arrancado das margens pelas fortes chuvas”, disse.
Enquanto isso, técnicos do Imasul analisam imagens de satélite feitas nos últimos dias para comparar a geografia da região antes e depois das chuvas e identificar eventuais alterações na paisagem.
Importante observar a elevação súbita no nível do leito do rio. No dia 31 de dezembro a régua marcava uma lâmina d’água de 3,86 metros e hoje, no mesmo ponto, o leito do rio está com 5,28 metros de volume de água. Conforme dados do CEMTEC (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima), órgão ligado à Semagro, choveu 138,4 milímetros na região desde o início do mês até esta segunda-feira. Em apenas um dia (13) o volume de chuva chegou a 119,8 milímetros, segundo registro da Estação Meteorológica instalada em Miranda.