Evento reúne especialistas do mundo inteiro para discutir conservação, legislação e turismo em cavernas
Servidores do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) participam, entre os dias 20 e 27 de julho, do 19º Congresso Internacional de Espeleologia (ICS) e do 38º Congresso Brasileiro de Espeleologia (CBE), que ocorrem de forma integrada em Belo Horizonte (MG).
Representando o Instituto, estão presentes Ayra Geraldo Albuquerque Caramori, técnica analista, e Bruno Lemes Guimarães, analista ambiental, que participam das atividades com o objetivo de adquirir novos conhecimentos, trocar experiências e acompanhar as discussões técnicas mais atualizadas sobre espeleologia.
O evento é organizado pela Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) e pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/CECAV) e marca também a celebração dos 60 anos da União Internacional de Espeleologia (UIS).
Com o tema “60 Anos da UIS: História para o Futuro”, o congresso reúne pesquisadores, gestores públicos, ambientalistas e representantes da sociedade civil em uma programação científica de alto nível, abordando tópicos como legislação, turismo em cavernas e educação ambiental.
Importância das cavernas e a atuação do Imasul
As cavernas são consideradas bens da União, conforme o inciso X do artigo 20 da Constituição Federal. Seu uso e proteção têm respaldo legal, principalmente por meio do Decreto nº 99.556/1990, atualizado pelo Decreto nº 6.640/2008, que estabelece diretrizes para sua conservação.
Quando situadas em Unidades de Conservação federais, seu manejo é responsabilidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Já nos demais casos, a competência recai sobre os órgãos estaduais de meio ambiente, como é o caso do Imasul.
No contexto de Mato Grosso do Sul, a Resolução SEMAC nº 24/2010 determina que o Estado é o responsável pelo licenciamento ambiental de atividades turísticas em cavidades naturais subterrâneas, conforme previsto também na Resolução SEMADE nº 009/2015. Devido à complexidade técnica dos ambientes cársticos e à especificidade da legislação aplicável — como a Resolução CONAMA nº 347/2004, o Decreto nº 6.640/2008, a Instrução Normativa MMA nº 2/2009 e a IN ICMBio nº 30/2012 —, torna-se fundamental o constante aperfeiçoamento técnico das equipes envolvidas na análise e aprovação dos Planos de Manejo Espeleológico (PMEs).
Capacitação e fortalecimento institucional
“A participação neste congresso é fundamental para nos mantermos atualizados sobre a legislação vigente, as boas práticas de manejo e os desafios da conservação em ambientes cársticos do mundo todo”, destaca Ayra Caramori, que atua diretamente na análise de processos de licenciamento ambiental envolvendo cavidades naturais. “Também é uma oportunidade valiosa para trocar experiências com profissionais de outros estados e países, ampliando nossa visão técnica e fortalecendo a atuação do Imasul.”
Já o analista ambiental Bruno Lemes Guimarães ressalta a importância do evento para o aprimoramento das políticas públicas. “As cavernas são ecossistemas únicos e frágeis, que exigem um olhar técnico muito específico. Discutir o turismo sustentável, os instrumentos legais e a gestão adequada desses espaços é essencial para garantir sua preservação e uso responsável”, afirmou.
Capacitação técnica e atualização científica
A participação no congresso reforça o compromisso do Imasul com a formação contínua de seus servidores e com a gestão qualificada do patrimônio espeleológico, buscando sempre aprimorar os processos de licenciamento e conservação das cavidades naturais presentes no estado.
O evento tem como principal objetivo “reunir as inovações da ciência das cavernas e do carste, apresentar explorações espeleológicas ao redor do mundo e promover a ampla expansão do conhecimento, contribuindo para a proteção deste patrimônio natural tão singular”.
A troca de experiências entre os profissionais e a aproximação com as diretrizes internacionais fortalecem o papel institucional do Imasul como agente de preservação do meio ambiente, em especial no que diz respeito à conservação do patrimônio espeleológico e ao desenvolvimento sustentável do turismo em ambientes naturais sensíveis.
Mato Grosso do Sul possui um rico patrimônio espeleológico, com muitas cavernas catalogadas, principalmente nas regiões de Bonito, Bodoquena e Jardim, inseridas no Complexo do Parque Nacional da Serra da Bodoquena. Abaixo, estão algumas das principais cavernas do estado:
Gruta do Lago Azul (Bonito)
• Uma das cavernas mais conhecidas do Brasil e cartão-postal de Bonito.
• Abriga um lago subterrâneo de águas azul-turquesa impressionante.
• Proibida para banho, mas aberta à visitação turística com acompanhamento de guias credenciados.
Grutas de São Miguel (Bonito)
• Cavernas secas formadas há milhões de anos.
• Acesso por passarelas suspensas em meio à mata.
• Ricas em espeleotemas (estalactites e estalagmites) bem preservados.
Abismo Anhumas (Bonito)
• Caverna vertical com acesso por rapel de 72 metros.
• Possui um lago interno onde é possível fazer flutuação e mergulho com cilindro.
• Considerada uma das experiências espeleomarinhas mais intensas do Brasil.
Gruta de São Mateus (Bonito)
• Caverna seca, com diversos salões e formações calcárias curiosas.
• Contém também um pequeno museu com peças indígenas e animais empalhados.
Caverna do Mimoso (Bonito)
• Lago subterrâneo com águas cristalinas.
• É explorada principalmente por mergulhadores técnicos (caverna submersa).
• Ricamente ornamentada com espeleotemas subaquáticos.
Caverna do Lago Misterioso (Jardim)
• Conhecida pela profundidade do lago (a maior caverna inundada do Brasil).
• Possui visibilidade superior a 40 metros.
• Apenas aberta para mergulho técnico e flutuação com restrição.
Caverna Ceita Corê (Bonito)
• Sistema de cavernas com nascentes e pequenos lagos internos.
• Parte de um complexo turístico que inclui trilhas e cachoeiras.
Outras cavernas e complexos:
• Buraco das Araras (Jardim) – embora tecnicamente uma dolina (colapso de caverna), é um ponto importante de observação de aves, principalmente araras-vermelhas.
• Caverna Boca da Onça (Bodoquena) – próxima à famosa cachoeira de mesmo nome, em área rica em formações calcárias.
Essas cavernas integram um dos maiores e mais conservados sistemas cársticos do Brasil, sendo alvos tanto de atividades turísticas controladas, quanto de pesquisas científicas. A gestão e o licenciamento dessas atividades são acompanhados por órgãos como o Imasul, com foco na conservação do patrimônio espeleológico.
Texto: Gustavo Escobar/Imasul