Campo Grande (MS) – Estudo realizado pela Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (Incab), projeto do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) foi apresentado na quinta-feira (3) ao Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul). A reunião para apresentação dos resultados do estudo e discussão sobre acidentes de trânsito com animais silvestres nas rodovias do Estado contou com a presença da diretora de Desenvolvimento do Imasul, técnicos da Gerência de Pesca e Fauna e de Licenciamento do Instituto, Pedro Celso da Agesul, o promotor de Justiça Alexandre Lima Raslan, o advogado Leonardo Avelino Duarte, o advogado Arlindo Murilo Muniz, da Comissão de Meio Ambiente da OAB-MS e o prefeito de Santa Rita do Pardo Cacildo Dagno.
A pesquisadora Patrícia Médici apresentou os dados obtidos em Mato Grosso do Sul pela Incab realizado no Cerrado desde o início de 2015 em 10 trechos de 8 rodovias do Estado (BR-267, BR-262, BR-163, MS-040, MS-080, MS-134, MS-145 e MS-395). Neste projeto são monitorados aproximadamente 1300 km de rodovias. A discussão da reunião foi focada nos dados da MS-040 que liga Campo Grande a Santa Rita do Pardo, por ser uma área crítica com muitos casos de acidentes, inclusive com vítimas fatais, devido ao atropelamento especialmente de antas. Através desse projeto foram identificados os chamados “hotspots” aonde foram identificados os trechos mais críticos das rodovias, através da análise de carcaças de antas atropeladas.
Segundo as pesquisas da Incab, são perdidas quase quatro antas por mês por atropelamentos em rodovias, o que traz uma grande perda, não só para a biodiversidade do Brasil – porque a anta é uma espécie importante para a manutenção de florestas e vulnerável à extinção – mas como perda de vidas humanas, impactadas também pelos acidentes nas estradas com a espécie.
A pesquisadora Fernanda Abra, que trabalha com Ecologia de Estradas, apresentou exemplos de empreendimentos mais sustentáveis, os quais utilizam medidas mitigadoras que minimizam o atropelamento de animais silvestres em rodovias, como por exemplo, as passagens de fauna, cercamento de áreas críticas, redutores de velocidade e sistemas de detecção de animais.
Durante a discussão houve o entendimento de que o problema deve ser considerado desde a concepção do projeto da rodovia, e que, principalmente, haja avaliação de equipe técnica especializada durante o processo de licenciamento ambiental. Há a necessidade de capacitação de técnicos do Imasul, da Agesul e das empresas executoras de obras em rodovias do Estado quanto à chamada Ecologia de Estradas, para que nos projetos já conste o chamado Plano de Mitigação, para que todas as medidas mitigadoras sejam previstas e implantadas de modo a minimizar os acidentes com animais silvestres.
Na avaliação da diretora de Desenvolvimento do Imasul, Thais Caramori, “é importante que haja sempre parcerias do órgão ambiental estadual com entidades que realizam pesquisas com animais silvestres, especialmente na identificação de áreas críticas, com grande ocorrência de atropelamentos. Essa disponibilização de informações é crucial para compor o banco de dados do Imasul, que ajudará nas tomadas de decisão e análises do processo de licenciamento ambiental”.
Para o promotor de Justiça Alexandre Lima Raslan, a reunião foi um primeiro passo para aproximar a necessidade do progresso com a necessidade também de considerar todas as variáveis para pensar na biodiversidade e na própria segurança dos usuários das estradas. “Se a solução é pavimentação das rodovias, a melhoria da logística, ótimo. Mas há problemas depois. E precisamos pensar neles também, e o licenciamento ambiental é o local mais adequado para isso”, ressaltou.