Após atingir em 2021 a menor área de superfície de água dos últimos 37 anos, com 474.638 hectares, Mato Grosso do Sul inverteu a perigosa curva e iniciou uma marcha de recuperação no ano passado, com o incremento de 82.892 ha de superfície d’água em um ano. É um sinalizador importante, porém ainda há uma enorme distância separando o Estado atual daquele de 1985 que tinha 1,593 milhão de hectares de superfície de água, a grande maioria localizada na planície pantaneira. Os dados estão no estudo elaborado pelo Projeto MapBiomas, iniciativa do Observatório do Clima desenvolvido por uma rede multi-institucional envolvendo universidades, ONGs e empresas de tecnologia.
Não por coincidência, em 2020 o Pantanal ardeu em chamas e o Estado teve mais de 1,7 milhão de hectares queimados. Os dados são da LASA (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) divulgados nessa semana. Ainda em 2020, a área de superfície de água estava em franco declínio, registrando encolhimento de 70.467 hectares em relação ao ano anterior (2019).
A combinação de altas temperaturas, poucas chuvas e farta biomassa garantiu o ambiente propício ao alastramento dos focos de calor. Enormes esforços foram empregados no controle das chamas com envolvimento do efetivo do Corpo de Bombeiros, Ibama, brigadistas particulares e ajuda do Governo Federal e de outros estados.
O secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck, lembra que o Governo do Estado tem tomado várias medidas que vão ao encontro da mitigação desse problema, como a transformação da Planície Pantaneira em Área de Uso Restrito onde é obrigatório manter 50% da vegetação nativa e ações para recuperação do solo nas nascentes do Rio Taquari, um dos principais tributários do Pantanal, em parceria com o Instituto Taquari Vivo e prefeituras da região. “Essa sinalização é positiva e pode indicar que está chegando ao fim esse longo ciclo de seca que atinge em especial a região pantaneira. Esperamos que para os próximos anos aumente o índice de chuvas e o Pantanal volte à normalidade, com toda sua biodiversidade que é diferenciada e precisa de um cuidado diferenciado.”
A experiência e os investimentos do Governo do Estado superiores a R$ 56 milhões com a aquisição de duas aeronaves adaptadas para o combate às chamas, além de viaturas, equipamentos e treinamento de pessoal, fez com que a catástrofe não se repetisse no ano seguinte (2021), apesar da superfície de água continuar recuando até atingir a menor área da série histórica: 474.638 mil hectares. Em 2021 a área queimada no Pantanal sul-mato-grossense teve uma redução de 16,1%, ficando em 1,4 milhão de hectares. Já em 2022 a queda na área queimada foi ainda maior: 82,2%, ou 247 mil hectares.
Corumbá – até por ser o maior município do Estado, com território total de quase 6,5 milhões de hectares – tinha no ano passado 220.277 hectares de planície d’água, área muito inferior à média da série histórica, que é de 479.961 ha. Foi o que mais perdeu planície d’água no País. Lembrando que Corumbá também engloba a maior parte do Pantanal e é banhado pelo rio Paraguai.
Aquidauana, com 1.695.800 ha de território, aparece em quarto no ranking nacional de perda de superfície d’água com 10.191 ha, quando sua marca na média da série histórica era de 61.081 ha. Proporcionalmente, perdeu mais superfície d’água que Corumbá. Esses são os dois municípios de Mato Grosso do Sul que figuram no ranking dos 20 que mais perderam superfície d’água em 2022.
Apesar do dado positivo no último ano, os pesquisadores alertam que o bioma Pantanal passa por um período plurianual seco e a recuperação deve demorar. As áreas alagadas têm sido menores e menos frequentes. Em 1985, o município de Corumbá – que concentra 60% do bioma Pantanal – tinha 1.009.371 ha de superfície d’água e em 2022, 220.274 ha. Ou seja, perdeu 78% dessa área. As áreas com maiores perdas são as de alagamentos sazonais do bioma: áreas ficam poucos meses do ano com água e estão a cada ano alagando menos.
Os cuidados de preservação do Pantanal têm interesses ambientais e também econômicos, destaca Verruck. O Governo do Estado desenvolve dois importantes programas que procuram dar visibilidade e rentabilidade à produção pantaneira: o Programa Carne Sustentável do Pantanal e o Programa Carne Orgânica do Pantanal. “Através de políticas públicas de incentivos fiscais aos produtores, esses programas têm elevado de maneira substancial a produção de carne orgânica e sustentável, atendendo a um público cada vez maior tanto no Brasil quanto fora.”